segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Perca peso!

Eu sempre fui uma criança gorda.
Bem gorda.

Não parece e ninguém que me conheceu depois dos 16, 17 anos acredita.
E eu não vou ficar colocando fotos escrotas de antes e depois para encher os olhos de vocês, de medo ou de motivação, que seja.

Como vocês sabem ou podem imaginar, uma criança gorda sofre desde cedo com preconceito. Para as crianças, não há perdão. Se você é diferente por alguma razão, ou tem alguma "dificuldade" física ou mental, eles irão te apontar isso na cara. E não há nada a se fazer.

Ou você entra na brincadeira, ou se revolta, ou muda, se possível for essa mudança.

Como minha família achava que me alimentava mal, dá-lhe comida.
E a minha ansiedade juvenil, que se estendeu aos dias de hoje, colaborava.

O preconceito puro e toda a exclusão que você carrega por um simples e imbecil fato de ser diferente me tornou alguém muito mais forte. Na solidão eu me fiz e é nela que hoje me concentro e faço os melhores trabalhos que eu posso, é de onde surgem as melhores idéias.

No meu isolamento, por exemplo, eu aprendi a tocar vários instrumentos e comecei a escrever.
O desenho viria mais tarde na minha vida..

Mas só fui tomar coragem mesmo pra mudar aos meus 14, 15 anos. Foi quando comecei a virar o jogo.

No começo, é como você ser um sedentário por 40 anos e começar a treinar para uma maratona de triatlon.
Você sofre muito para se dedicar, e precisa aceitar isso se quiser "pegar" alguém nessa idade.
Dá-lhe academia, dieta e paciência. Puta coisa chata. Mas eu me adaptei.

Virar o jogo nessa situação acho que foi minha segunda maior conquista.
A primeira foi me apresentar com música.
Às vezes com piano, com o violão ou a batera.

E assim foi até que, hoje, tenho o mesmo peso que eu tinha em 1999.
Ou seja, o peso de um adulto em uma criança. Era foda.

Mas o engraçado de tudo isso é que quando você cresce, carrega todos os traumas e alegrias com você.
Eu, por burrice, deixo de comer várias coisas ainda hoje. Parece que ficou na minha cabeça uma época da qual eu não quero lembrar, talvez seja pra sempre.

E talvez pelo mesmo motivo, amor e ódio sempre foram tão cúmplices no meu coração.

Há épocas em que o amor permeia meu coração e dá o ar da graça. Tempos de piadas, textos engraçados, músicas esdrúxulas, porralouquice.
E há tempos em que o ódio toma conta dele. São tempos estranhos, de não aceitação própria ou de nada.

Mas em ambos, me inspiram arte.
A minha arte lida bem com os dois amigos e eu sinto que são grandes companheiros.
Cada trabalho se adequa ao perfil certo, ao momento.

E eu acho que toda experiência é válida.

Mas por que raios eu digo isso? Por experiência própria?
Pra realçar minha superação?

Não. Mas pra mostrar que somos capazes de fazer qualquer coisa em que nos dedicarmos e que os momentos ruins nos fazem fortes e dão o apoio necessário para evoluirmos.

Muita gente que tirou sarro do meu "peso-extra", hoje não vai nada bem.
Será que eu dou risada?

Ah, vou mesmo é comer e babar como criança. Na cara deles.
Pra não perder o costume...