quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Muy Sensual

- Olá, Mr. Jones.
- Olá, Sta. Doralice...

(longa pausa)

- Passeando?
- Não, não, a trabalho mesmo.. Vim aqui para o bar pra ver se eu descanso um pouco..
- Quer uma massagem?
- Como assim, Dora, e o Agenor? Não ia gostar disso...
- Me separei.. ele não prestava. Como a maioria - disse dando uma tragada longa no cigarro e apoiando a mão livre em seu ombro direito.

- Me vê mais duas doses, por favor.

Whiskey rolando solto. Com um pouco de guaraná.
Só um pouco, que é pra não perder o efeito alucinógeno.

- E você, Dora, o que faz aqui? - disse Jones tentando fumar, mas lembrando-se que há muito não tragava. Tossiu ridículamente.
- Ah, eu ando estudando, artes..
- Artes?? Não me lembro de te ouvir falar de "artes" uma só vez na vida!! Só fazia arte, da boa... Mas nunca levou jeito para o mundo artíscico.. o que te fez estudar isso, mulher?
- A vida, Jones... A vida!

As formas iam se formando em curvas.
Qualquer forma virava uma curva feminina para Jones...
Ah, Jones... Mal sabia ele que não era só mais uma bebericada ou uma tragada...

Começou uma música "para casal". Jones tirou Dora pra dançar.
Mais bambeou que dançou. Se entregou, literalmente, aos braços de "Dorinha", a menina do beijo na moita...
Por muito tempo Jones ficou com ela na cabeça, mas a vida o fizera esquece-la.

Mas isso não vem ao caso.
Jones enxergava em 3D, Dora não ficava para trás.

A conta.
O pedido da conta é crucial.
"Fechou, pagou, catou", pensou Jones.. (com o resto de cérebro funcionando, que lhe permitia alguns cálculos, mas sem abusar).

Um passo pra lá, outro pra cá. Trançando iam se ajudando.
No elevador-moita, já se entendia o que ia acontecer dali em diante.
Beijos, amassos, marcas de batom pelo elevador inteiro.

E o apartamento era no 12º andar, pra ajudar...
O elevador tocava Bob Marley (o que não fazia um clima muito romântico, nem sensual).

A entrada foi triunfal, se filmassem, Hollywood compraria.
Tudo para o ar.
Pernas, braços, gravata, vestido, sapato, relógio e a pulsação.

Nunca um momento de "silêncio" fora tão bem apreciado.
Eram artistas de cinema, eram eles mesmos.

A selvageria confundia-se com a saudade, os primos Dora e Jones...
Tiravam o atraso de anos....

E foi assim a noite toda.....

Logo cedo, o efeito do álcool parecia ter sumido de vez da cabeça de Dora.
Levantou-se da cama, abriu a bolsa.
Jones dormia e babava. Ah, e roncava pra cacete...

Tirou de lá sua dose, matou a vontade.
Tirou também o revólver, caminhou em direção ao banheiro.
Foi se olhar. Chorou, como criança, chorou...

Era como se nunca tivesse visto aquele rosto antes, era como se nunca houvesse "pecado" em sua mente.
Se é que eles existem...

Do revólver, a dúvida.
Da dúvida, a solidão.
Da solidão, o basta.

Já não sabia mais quem era, a palpitação a arrasava o coração e não sabia se deveria ou não.
Caminhou até Jones. Em passos lentos.
Mirou. Para ele.
Para ela mesma.

Guardou a arma.

Voltou a se deitar.

É, talvez fosse a melhor escolha...
Ah, essa Dora....


Abraços poéticos.