terça-feira, 26 de julho de 2011

Bundas geladas?

Pedro levantou, bocejou, ajeitou a posição e tomou coragem para se levantar.
Era um dia nem tão quente, nem tão frio.
Na geladeira, a esfiha do dia anterior veio lhe dar bom dia, embora sempre que possível, fizesse o trocadalho para "bundinha", acreditanto alegrar o dia de sua secretária, Marilda, que na verdade não aguentava mais tamanha cafonice repetitiva logo de manhã.

No meio da esfiha, como de praxe, encontrou um tico de osso e separou no canto do prato.
Tornou a comê-lo ao catar as migalhas, coisa que adorava fazer. Mas sempre pegava um resto mastigado qualquer...
Deu uma escovadinha meia-boca nos dentes meio-amarelados e saiu firme e confiante, com um meio-nó na gravata.
Nunca soube dar um nó de gravata direito.
Mas as gravatas com nó pronto quebravam um galho.

A porta do carro de Pedro tinha um macete, que o antigo dono lhe passara: Colocar a chave duas vezes e somente girar na segunda, levantando um pouco a porta, puxando pela maçaneta.
Pra pegar, destrava-se os dois resgates, engata a primeira, da uma acelerada e espera um pouco esquentar...
Daí sim podia deliciar-se com seu DVD-Player de altíssima qualidade, acompanhado de um ótimo som e elementos que fazem a pessoa sentir-se um piloto de nave espacial com pinta de Schumacher paulista.

Na rua deslizava, cortava pela direita, esquerda, meio, a puta que o pariu...
Esperando encontrar alguma moça de família que quisesse namorar com um cara como ele, que lançava supostas canções do acasalamento moderno: alguns funks tão poéticos quanto Carlos Drummond, daqueles que podiam facilmente ser recitados e refletidos.
Em alto e bom (?) som.

Encostava no trabalho, chegava chegando.
"Bundinhaa, Marildaa!!" - "Bate aí, doida..."
Leve cumprimento.
Marilda queria mesmo era enfiar-lhe um pepino no cotuco.
Mas continha-se, precisava da grana.


Enrola daqui, liga dali...
Esse tal de Nextel chega a ser piada.
A qualquer momento, alguém pode interceptar seu momento de trabalho, lazer, prazer, higiene pessoal, estudo motivacional, sexo tântrico...
E sempre com aquele viva-voz que teima em ligar até sozinho.


Reunião à tarde com os fornecedores...
PRII - "Eaeeeeeeee cowbooyy viaaadooo!! Vida boa ae?!!"
Pedro envergonha-se, mas nem tanto.
Pede desculpas ao novo fornecedor e PRII - "Tá comendo a Marildona ae, garanhão?!? Aoooooooooooowww, muleeeeeeequeee!!!".


Perdera o fornecedor, óbvio.
Nextel invasivo da porra... 
Mas o danado responde alegre, afinal, no país tropical todos são amigos e é sempre verão, o que importa é a gelada.


PRII - "Bora pra uma gelada, malandrage??"
PRII - "Demorô...."


Dali a pouco estava no bar, bebendo.
Gelada, bundas, bundas, geladas....

Bundas geladas?


Mais adiante estaria em casa, não ligaria a TV, assim como não leria merda nenhuma porque quase ninguém lê...
Dormiria, acordaria, comeria restos mastigados sem querer...
E jogaria na loto, claro.

Afinal, sempre existe um ganhador real da loto.
Eu mesmo conheço uns 5.
Ou 6, se não me engano.


Tô feito.


O Pedro não....



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sai de mim, touchscreen!!!

Espero não estar sozinho nesta luta.

Fato é que acredito estar "quase" abandonado nesse modo de pensar.
Veja bem, eu gosto de tocar as coisas.
Mas tela de celular ultra-tecnológica touchscreen foi uma das piores, se não a pior, invenção da humanidade!

Porra, como se aperta um botão de cada vez com aquilo?!?
Eu já tentei, testei, apertei.
Não vai, não rola.

Se é pra discar, erro os números.
Se é pra usar algum aplicativo, sem chances.

Não gosto nem de celular, mas o meu é de botão.
Morro de medo de um dia, tudo virar essa merda de touch.
Acho que vai rolar daqui a pouco, para os mais afixionados, sexo touch.
E eu vou rir da cara dessas pessoas....

Não consigo entender, na verdade, como eu que nasci em uma geração praticamente digital possa ser tão avesso à ela!
Eu gosto do lance artesanal, da espera, do tato, da calma...
Essa onda de ultra-velocidades, ultra-tecnologia, celulares que fazem tudo menos ligações...
Não consigo me adaptar e vou na contramão mesmo.

E me desculpa Steve Jobs, mas seus produtos não me agradam.
Me desculpe geração dos aplicativos, meu negócio é a agenda de papel, caneta e café no copo.

Vai, pode me xingar por aí, você, antenado em tecnologias.

Não ligo não... Você vai xingando que eu vou tateando...

Acho que sou um homem das cavernas nascido na era digital.
Mas sem os pêlos... E (talvez) um pouco mais inteligente...

Um abraço para quem não gosta do touch.
(texto curto devido à minha dor na mão, talvez de tanto botão que eu aperto...)

* O que estou lendo e recomendo MUITO: "1984", George Orwell ("o cara"), no começo é meio lento, mas engrenando a leitura fica sensacional...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dor, prazer e martelo

Há alguns meses ando convivendo com uma dor meio chata.
E implicante.

Paro e penso que sem ela seria melhor.
Mas eu só valorizaria isso a partir do momento que ela viesse. E veio.
O excesso da profissão, o excesso do exercício físico... não importa de onde venha, exatamente.

Mas ela me rendeu algumas histórias...

E aqui vai uma delas:

Conheci um chinês (ou coreano), daqueles que não falam quase nada de português, não tem cartão ou telefone, mas são diplomados em diversos modos de cura e são quase um "mito" escondido e transmitido pelo boca-a-boca (como os tatuadores do japão).

Consegui um contato dele através de uma pessoa querida que me disse ter gostado e que ele usava alguns martelos para nos colocar no lugar.
Achei interessante e pensei: "ok, martelos pequeninos, algumas marteladinhas e eu tô pronto pra outra..".
Demorei para achar o local, como não podia ser diferente, e toquei a campainha.

Confesso que estava com uma mistura de ansiedade com medo...
Mas mais ansiedade.

Entro e uma mulher (também coreana ou chinesa) me atende, não fala um "a" de português mas consegui entender que devia esperar.

Espera.

Espera.

Pronto, aparece o meu futuro "consertador" de ossos.
Simpatia total.
Mandou que ficasse de cueca para avaliar minha postura.
Consegui entender mais ou menos o que ele dizia, mas a conclusão final era: "cara, você está todo torto, vai demorar pra consertar isso...".

Enfim, eis que ele me manda deitar na maca... e eu avisto os martelos....
Juro que eram martelos gigantes, um tanto menores que os do Chapolin, claro, mas eram maiores do que eu esperava...

Começa a sessão.
Estrala aqui, estrala lá, estrala até a minha orelha.
Até aí, ok, eu até estava achando divertido, tirando a parte de que tinha acabado de fazer uma tatuagem no peito no dia anterior e estava ralando na maca inteira.

Sinto um breve intervalo.
Barulho de martelos com cabo de madeira, emborrachados, claro.

BANG!
BANG BANG BANG BANG caceta BANG BANG urgh BANG aiaiaiai, seu moço.....

E assim foram-se vários e vários BANGS, BONGS e afins...

Pelo que entendi, minha bacia estava um tanto "torta" e as marteladas, claro, sempre no lado torto. 
Neste caso, o direito.
Vinha frio, calor, vontade de rir.
Sim, rir de nervoso.

Eu só não gritei porque tinha gente esperando do outro lado do biombo que separava a sala da "tortura" e da espera.

Quando acho que tudo acabou, os BANGS, as BONGAS e tudo o mais...
Escuto ao pé do ouvido "Lelaxa, lelaxa...."
E como que num súbito ataque de fúria, vem a estralação master boing boing da coluna inteira em um só movimento.

Deu pra ouvir todas, uma por uma das vértebras estralando.
Juro.

A sensação, nesse momento, já era de estar fora do corpo.
A parada era quase um ritual espiritual.

Ele me manda levantar, eu capengo levemente...
Manda ficar de costas pra ele.
Dá uma olhada geral...
Eu no aguardo.

BANG!

Caceta, seu moço! (fui parar uns 2 metros pra frente)

BANG!

"Non pode i pala flente, fica pala tlas" (traduzindo: não anda quando eu martelar a sua bacia, porra!)

BANG!

"Non non non non non! Pla tlas!"

BANG!

Não sei se eu consegui aguentar ou se o cara desistiu de mim.
Mas depois da terceira ele me liberou....
Fui embora com uns 30kgs a menos, alguns roxos...

Você pode estar pensando que foi algo horrível, mas eu volto lá até hoje...
Talvez porque eu não entenda o que ele fala...
É quase que uma mistura igual a da tatuagem, a dor de fazer e o prazer do resultado final...

Resumindo, o cara é um artista!
E eu paguei um pau...

E a dor?
Ah, isso passa!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O dia em que falei com Deus

Um dia estava eu, só, com um copo de Coca-Cola, gelo e limão.
Quando surge uma figura sagradíssima, não sabia quem ou o que era, mas era sagrado. E ponto.
Achei tudo muito estranho, até olhei para o copo tentando entender o que havia tomado para ter aquela visão um tanto quanto estranha...

Não conto lugar, não conto tempo.
Deus que pediu.

Mas fato é que, estava lá, very nice e não é que Ele me puxa assunto?
Achei mais estanho ainda...

A começar pelo modo como me chamou: "Olá, rapaz.."
Eu encafifei. Se ele for mesmo Deus, porque não me chamaria pelo nome?

E numa dessas, ele quase que acerta!
 - Eu sei o que você está pensando, querido Diego.
 - Até o Senhor, meu Deus? É Diogo. Com "o" mesmo...
 - Ah sim, mas eu estava tão atarefado ultimamente que acabei confundindo.. me desculpe!
 - Claro! E eu lá vou dizer não para o Senhor? Tô louco não...
 - Como? - Deus encafifava e indagava astucioso.
 - Nada, não... - respondi logo, tentando receber a benção de não precisar explicar...

E funcionou.

- Quer um gole?
- O que é? - Ficou curioso...
- Se o Senhor é mesmo Deus e eu não pirei, Você que diz o que eu to tomando... oras...
- Mas que mania essa de acharem que eu sou mágico! Sou não, Dieg..digo, Diogo!
(juro que nessa hora escutei um resmungo "... esse "o" só pode ser pegadinha do malandro..")
- Ué, o Senhor é o Todo Poderoso, o Chefe, o Comandante do Universo, não é? Como que não consegue advinhar o que eu to tomando?
- Deixa pra lá...
- Sei não, hein... botaram "boa noite cinderela" na minha bebida, vai, revela aí? E nesse exato momento eu apaguei geral e to sonhando, certo?
- Não, rapaz... (disse ele, disfarçando para não ter que pronunciar meu nome, fato).

Aí veio a bomba.

- Estou aqui, caro amigo, para te dizer que terás de salvar a humanidade!
- Ihh, e quer me convencer que eu tô falando com o Senhor mesmo?
- Garoto, Little Boy, Pequeno Diogo... As coisas andam difíceis pra mim e, sozinho, não consigo dar conta do mundo todo, quiçá do universo! Então estou recolhendo voluntários que irão me ajudar na missão de salvar o planeta...
- Como assim, Senhor?
- Se lembra do último episódio do Super Man? Aquele das voltinhas no planeta?

E como num pulo, me empolguei e disse com todos os dentes - Sim!

- Pois é, nada a ver... (e esboçou, juro, um leve sorriso)
- Pô, Senhor... Assim não dá! Queres que eu te ajude mas fazes pegadinha?
- Só para descontrair, meu querido, só pra descontrair... Fato é que você terá uma missão a partir de agora!
- Ai, meu Pai...
- Pois não?!
- Não, nada, continua que tá interessante... (nessa hora eu estava morrendo de medo)
- Pois então, terás de acompanhar Inri Cristo em todos os eventos a partir de agora! E cantarás, vibrarás, dançarás e guiarás todos seus disciplos por essa empreitada!
- Ah não, aquele Inri com as freiras que cantam no clipe??
- Siiim, e que ótimas cantoras!
- Mas peraí, Senhor... Esse tal de Inri é mesmo Cristo?
- Sim, ele o é!
- Ah, vá!
- No momento certo, entenderás, meu caro! Mas agora tenho de ir, esse é o contato do Inri, anota o ID do rádio...
- Do Senhor???
- Não, claro que não. Do Inri, poxa.. parece que você não presta atenção em nada, rapaz...! Eu lá sou Homem de rádio? Meu negócio é telepático...
- Mas se é telepático, porque raios, com o perdão da palavra, o Senhor está falando comigo o tempo todo?
- Ora, meu caríssimo... Eu sou Deus, eu que mando aqui.. agora vai andando, vai.. Ah, e não esquece do esquema com o Inri!!!
 - Mas vou andando pra onde? Senhor? Alô? Donde tás?

Acordei prontamente, como que num pulo da cama!
Deve ter sido um susto.

Tomara.