sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Insônia

Já estive em crises piores, mas esta parece que veio pra ficar por uns dias..
A insônia gosta de se ocupar com aquilo que não lhe pertence, o seu direito de descanso.
O seu desejo de simplesmente fechar os olhos e acordar somente no dia seguinte, ainda que com o barulho do seu despertador.. são 6:42hs e já fiz muita coisa até agora.
Tentei o Umberto Eco, com Cemitério de Praga - livro que, aliás, recomendo muitíssimo, é fantástico!
Mas não deu sono.. pelo contrário, li tanto que até os olhos ardem agora..
Tomo um calmante. Três, pra ser sincero.. penso em procurar cápsulas de boa-noite-cinderela no mercado livre ou algo do gênero.. não encontro.
Tento um som.. Começo com Lenine.. acabo em Raimundos. E nenhum deles tem algum efeito sonífero..
É engraçado, pra não dizer trágico, a sensação de um insone. Ao menos a minha é de que o corpo quer descanso, mas a cabeça não deixa. Por algum motivo continua trabalhando sozinha, a ordinária.. e a minha não trabalha pouco, posso garantir.
Me passam eventos, cenas, coisas que tenho no dia seguinte..
Entro no chuveiro e ligo a temperatura mais quente disponível.. uns 10min de água na nuca. Saio vermelho e vou pra cama.
Deitar não significa, às vezes, que a cabeça vá entender o recado.
Sento. Leio mais.. canso.
Ao menos se algumas alienígenas quisessem me abduzir para experiências genéticas, poderia contribuir até para a nação. Desde que me devolvessem, claro.. Aliás, acabo de me candidatar para a vaga, caso um de vocês codifique isso...
Me lembro de ter lido, uma vez, sobre respirações que dão um efeito sonífero. Nesse caso, o livro dizia para respirar pela boca, com a língua em forma de um canudo.. sabe? (dizem que saber fazer é genético.. tenta aí)
Fiquei que nem um besta puxando arzinho de canudo lingual.. nada..
Resolvo me alongar.. alongo tudo, espreguiço, tomo água porque é cedo (ou tarde) pra cachaça..
Se você quiser diversão pura, coloque uma câmera escondida no meu quarto nesses períodos..
Encontro um lanche na geladeira... no impasse de comer ou não, o negócio foi comido e eu nem me lembrei das boas maneiras ou de que horas eram..
Volto para o quarto.. a Chica Maria mia, quer comida ou leite. Arrisco comida.. acho que deu certo.
Penso, "agora vai..." deito e antes, olho o relógio... 6:28hs.. desisto, vou escrever.

Mas pior que a minha insônia, o que anda me intrigando é o clima de janeiro. Pelo que me lembro nunca tive de usar agasalho no começo do ano.. estou certo ou não?
Essas previsões pra 2012.. sei não..
Vai ver que é minha falta de sono causando ilusões.. assim espero.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um pouco só de sacanagem (parte 3)

Foi de um espanto enorme quando viu-se tremer de nervosismo a chegar perto daquela..
Não era de se esperar, mas aconteceu, debaixo das luzes da noite, na rua, no beco, suja e bonita como deveria ser.
Entre o que é real e o que pode acontecer, tinha sonhado com aquilo na noite anterior..

- Vamos dar uma volta?
- Tudo bem, confio no teu sorriso..
- Certeza?
- Você não me engana.

De mãos separadas, transpirando sozinhas de suor, emoção, história, medo, orgulho...
Passariam despercebidos facilmente.. Algo acontecendo no ponto de ônibus, um velho pinguço fumando seu cigarro barato e encostado na sarjeta faziam parte de uma cena tipicamente urbana que lotava as imaginações mais férteis..
Deram mais uns passos.. acharam um lugar mais reservado.
Não deram-se ao trabalho de esperar para entrar e começar o que chamavam de carinho.
Ali, na entrada, mãos dadas e um frio corria pela espinha, carne, osso, pele.. macia..
O frio era adrenalina, fazia um calor infernal em uma noite como aquela.
As paredes do beco eram lisas, ásperas, molhadas, secas.. cada momento tinha sua particularidade.
Cada momento tinha seu som.
Uma mureta, um apoio, os lábios encaravam-se afoitos, com vida.. vida própria. Moviam-se involuntariamente, inconstantemente, sem lógica ou reação adversa questionável pela língua..
Nada constava na contra-indicação e a blusa aberta fazia reluzir ali, entre os dois, as luzes amarelas que vinham da rua solitária, que assistia quieta a tudo aquilo, aos sons e aos movimentos curvilíneos..
A rua podia ver o reflexo da abertura, a pele suada encarando o mar de imaginações mais férteis daquele dia, daquela noite.. já não sabiam..
Assistia calada, talvez rindo por dentro, talvez desejando ser humana para participar de uma afetividade..
Talvez não a aceitassem por lá caso fosse gente.
Era algo de dois. Não é toda hora que isso pode acontecer tão inesperadamente..
Um barulho, barulho de carro!
Reflexos de uma sirene vermelha que acolhia a todas as paisagens sujas daquela rua numa noite de verão.
Medo. Com medo, mais adrenalina circulava nas veias dilatadas pela paixão que envolvia todo o receio, mãos apertavam com força toda aquela tensão, a angústia.. que passou bem perto de ser revelada...
E então o grande final apareceu tão pertinente quanto a insistência daquela sirene para o resto da rua...
A rua, por sua vez, que chorava de emoção, chegava ao êxtase sem nem mesmo poder se tocar, nem entender o que acontecia de fato ali no meio do percurso todo.. sem poder ser..

Os botões e tecidos em seus lugares, o que era demais ficara na história daquele beco na rua que via.
Via e desejava-se toda.
De mãos dadas, saem do beco.. o velho pinguço ainda está lá e, consciente ou não, não sabem.. mas um sorrisinho pertinente saiu-lhe do canto da boca, foi inevitável a face avermelhar..



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Aspirador de pó

Resolvo me manifestar em uma segunda-feira para passar aspirador de pó pela casa.. Não trabalhar de segunda às vezes requer mais que uma força de vontade.
Vou correr, deixo o aspira revolutions pra depois.. Volto.
Ele me encara.. já sei o que me espera.
Ligo os motores barulhentos (ouvi dizer que existe os sem barulho, quem souber onde, me manda um e-mail!!).
E lá vai.. Viajante que sou, aspiro e começo a pensar, vendo aqueles micro-pedaços de poeira, cabelo e restos imortais de uma bolacha qualquer..
Pensando na vida, lembrei de como fora 2011 pra mim.
Acreditei, de uma vez por todas, naquilo que estava fazendo. Tatuei das 10 às 22hs durante 5 dias na semana, durante praticamente o ano inteiro.. ignorei amigos que diziam pra me cuidar, ignorei pessoas queridas que me viam com olheiras e perguntavam se eu estava dormindo bem..
Pois é, não estava não. Trabalho, casa, bar.
Esse circuito fechado me levou a pensar que ia pirar, por acreditar tanto naquele objetivo que eu programo pra mim há 5 anos..

Aspiro mais um pouco, encontro algo como um floco de milho.. raspo, raspo, mas o negócio impregnou no piso frio da cozinha.. pulo o floco por preguiça de abaixar.. depois voltaria nele.

Me lembrei de, há 5 anos atrás, dizer uma das coisas mais estúpidas da minha vida em uma entrevista de emprego e em um velório.
Na entrevista, de praxe, e perguntaram meu maior defeito.. Eu, sabichão achando que era gente, respondi que o perfeccionismo era quase um defeito.. de tão exacerbado.
Ridículo, claro. E óbvio que não me contrataram.. mas foi bom, acabei descobrindo o que estava programado pra mim.. mas isso já dá outra história.
No velório de um parente distante, meu pai me leva pra conhecer as pessoas ao redor do caixão.. cumprimento a todos e me dizem pra dar um "olá" para o falecido.. Sabe o que eu digo? "Não, obrigado, não sou chegado.."

"Não sou chegado..." cara, você foi ridículo de novo.. ainda bem que faz um bom tempinho isso.
Talvez nem lembrem..
Não sei se rio ou se choro..
Volto pro floco de milho.
Maldito floco de milho que não sai com a ponta do aspirador de pó!!
Pode estar ali há alguns meses..
Mudo a direção das aspirações.. pensamento vai longe.

Me lembro de como não me adaptava nessa história toda de bater cartão, entrar e sair na hora, ter horário pra almoçar, pra ir no banheiro.. pensava ser o meu fim nessa história toda meio frenética de arrumar um emprego que te consome..
Acabei indo ajudar um amigo no estúdio de tatuagem dele e, dali, só saí pra montar o meu próprio estúdio.. depois de 3 anos dividindo experiências e muitas histórias cabulosas.. aposto que já vi em 3 anos, mais do que muita gente viu a vida toda.
E me orgulho de ter acreditado na parada! E nas pessoas certas.. sorte a minha.. que nunca fui muito de confiar em ninguém.
Hoje trabalho no ritmo certo, depois da lesão braba que peguei por conta do excesso de trabalho em 2011.. e digo mais, não sei ao certo se vale a pena se matar em tão pouco tempo como eu fiz..
Agora consigo dormir, pegar um copo, escrever com um lápis no papel.. isso era impossível no final do ano!

Sucrilhos dos infernos!!!!
Abaixo, cutuco, retiro, aspiro.
Como meus pensamentos..

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Essência

A velocidade me soprou perto do peito
Tirou meu ar, tinha cara, boca, dentes e desespero
De onde vinha, sabia que, bobagem minha não acreditar que ela existia
Fui em frente, perguntou-me: Aonde vais com tanta parte minha?
Sabia estar sozinho, veloz no meu caminho de pensamento
Que fala por si só, sozinho, em todo o momento
Se um dia choraria o mar, encheria a cara lá no sétimo andar
Mas me armei com fotografias do céu, chão e o mar..
Pra mostrar as coisas que o seu desespero não pode mudar
Não se compra ou vende
Tenta-se idolatrar
A velocidade, esta, que não sabe pra onde vai..
Nem se pode parar
Brecar, alcançar, chamar..
A informação lateja sua percepção de mundo,
buraco fundo da mente que esconde o desejo de realizar
O mais profano dos segredos que a velocidade, nem em pensamento, consegue alcançar
Corro até cansar...
Dou a volta e viro a encarar, despido de qualquer arma
Despido de bazuca ou pé-de-cabra
Apenas a minha essência, que não quero alterar
O que sinto, vejo e sou, ninguém me falou,
mas sei e não duvido
O essencial pra mim, sou eu quem decido




segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Imperfeição

Gosto, assisto, fantasio, me excito com as imperfeições..
Sinto leve desespero pela busca de imperfeições que, como aprendi na escola, tornam as coisas perfeitas.
Isso pelo fato de que negativo com negativo, torna-se positivo.
Quero aquela curva mais torta, aquela natureza que brota do lado que você menos gosta na foto, quero a foto que não vai para o perfil do Facebook, quero a foto que você não revelaria nem mostraria a ninguém!
Insistem em vestir um padrão nas pessoas que me assusta, me afasta. Não me leve a mal.
Naquela perfeição que dizem ser tais coisas, distanciam-se cada vez mais do que é necessário e, pior: não conseguem motivação para decorar suas imperfeições, para criar novos modos de pensar..
Pensar, aliás, é coisa rara por aí.. Se a TV te traz tudo desmembrado e liso, por que me preocupar com o que é torto e áspero?
Você entende o que eu digo?
Às vezes penso de uma forma tão diferente das coisas que fico meio assim, incerto de algum entendimento.. tudo bem, eu gosto de confundir também, tão bem...
Mas convenhamos que, se não sentes atração por nenhuma "imperfeição", talvez seja um ciborgue programado pra dar errado, sem direito a troca mesmo com selo de garantia.
Garantia falida essa tua, se pensas assim.
Não submeta-se a tratamentos extensivos para tornar-se o que você não quer ser.
Fico de fora, observo e rio. Rio de quem quer ser o que não será, de quem será o que não quer ser.
Ambos por pura crença na perfeição, que não existe..

Ou existe?




terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Guardeiê

Guardei dentro de uma caixa, todo meu sentimento.
Toda a prescrição médica com a dieta prescrita juntamente com a receita do complexo que controla o colesterol e a insulina, mesmo sem ter estes problemas. Guardei uma cartela de Doril, caso precisasse.
Guardei o controle. Não o da insulina, nem o do vídeo-game que eu não jogo, guardei o pior: o autocontrole.
Antes de guardá-lo, retirei carinhosamente sua bateria.
Guardei um cachorro, um agasalho, uma peruca. Ninguém sabe o que pode acontecer...
Comprei três barras de cereal e uma garrafa d'água. Guardei também.
Alguns trocos, moeda, elástico e canivete.
Espuma de barbear, lâminas e um espelho vermelho. A moldura, não o vidro.
Papel higiênico, dentes de alho e sal grosso.
Uma lanterna, dois ovos e um bacon.
Fotografias, discos, arritmias, calmantes, cachaça, camomila e jasmim.
Lasanha  pronta, canela, café...
Três cotonetes, um vaso e um canguru.

Guardei tudo isso e fui viajar...
Viajei no mar das palavras que eu queria guardar
Guardei cada pedaço no passo do asfalto que dava sem olhar pra trás
Porque se fosse pra agradar a todos eu teria programa na televisão..
E ainda assim seria um risco sem fim, pior do que sair no Faustão ou ser notícia de primeira-mão
Não tenha dó de mim, que insisto em escrever o que poderia falar..
Mas falar não marca, não se guarda e não se lembra!
Eu escrevo pra poder guardar, nem que seja por agora ou pra depois
Nem que seja pra mim ou pra você
Tudo o que se passa nessa minha cabeça freneticamente entediada por excesso de pensamento
Por pensamento no excesso.. Nem eu sei mais!
Posso fazer uma poesia, uma crônica, ou misturar os dois, tanto faz.
Fato é que também posso confundir, inventar ou (diriam!) mentir!
Calúnia, amor, sexo, compaixão..
Em tudo que faço existe participação do coração
Porque ser racional, e somente isso..
Não me faz bem, admito.