domingo, 22 de abril de 2012

Contradição

Em uma conversa (quase) informal, redescobri uma palavra: contradição.
E mais ainda, vou além. Vou na minha contradição como homem, como mente pensante e coração que pulsa.
Sou contraditório, você que está lendo este blog agora, é contraditório. Sua mãe também.
A má notícia é essa: todos somos...
A boa é que isso é bonito.
Pense, com toda a contradição, com tanto disse-não-disse, tudo só é possível através das mudanças de pensamento e rumo.
Se não através da contradição, dar a seta para a esquerda e entrar na rua à sua direita, tamanha seria a lentidão e a monotonia... e quando estiveres disposto a dizer o que não pensa?
E quando não está com vontade de dizer nada mas é levado a?
Nada mais justo do que se contradizer.
Nos contradizemos para não ofender, para machucar menos e talvez amar mais. Ao menos parecer que isso aconteça.
Não confunda contradição com hipocrisia.
Hipocrisia é uma camada de erros coberta por um manto da santidade, suposta inocência ou incapacidade de expor seus reais sentidos e sentimentos.
Contradição é ser pego de surpresa, é falar mas não fazer. É o médico que fuma. Mas não tenta te convencer a parar de fumar. Enquanto o hipócrita fuma no banheiro, escondido e apaga a bituca na privada suja e critica os fumantes publicamente.
A contradição tem a ver com a metamorfose, com a nossa mudança de pensamento e evolução.
Podemos ter um pensamento hoje e não mais amanhã. Isso contradiz.
Mas geralmente a evolução (como o nome já diz) é um passo além, para melhor.
Então algo que dissemos no passado, hoje pode não fazer sentido.
Falta de sentido é bonito.
Quem não se contradiz, hipócrita é.

Você me entende?



terça-feira, 17 de abril de 2012

Antes...

Antes tempo fosse um privilégio de quem ama
de quem sente saudades ao deixar quem quer que seja
esperando tanto...

Antes a vida fosse logo revelada e soubéssemos
dos maiores segredos que tudo isso esconde
debaixo do nosso nariz...

Antes a ferramenta essencial fosse o amor
martelando pregos das boas energias
nos corações mais rancorosos...

Antes existisse lojas com "amor Wi-Fi"
ao invés de uma conexão mesquinha com a internet
que quase nunca funciona...

Antes a escolha do melhor caminho fosse obrigação
dentro de cada um e não uma opção
egocêntrica e material...

Antes a  riqueza do conhecimento fosse 
transmitida sem distorções ou efeitos especiais
pela literatura manipuladora...

Antes pudéssemos conhecer a verdadeira história
das datas que consideramos importantes
mas que foram tomadas pelo consumo desenfreado...

Antes não existisse o "depois"
e assim veríamos mais garra para 
fazer acontecer agora...



quinta-feira, 12 de abril de 2012

Um pouco só de sacanagem (parte 4)

Essa aconteceu com o amigo de um amigo meu...

Da sala para o quarto, entre a pequena sala de jantar onde festejavam formigas ao devorar os restos de pizza de calabresa, ele resolve escovar os dentes e se preparar para mais uma noite solitária de sono.
Ao levantar-se do sofá e olhar ligeiramente para o lado da sacada de seu apartamento, olha, desvia e olha novamente.
Pega o óculos na ponta do sofá, coloca-os para ajustar seu foco.
Era realmente ela... a vizinha do apartamento da frente estava desfilando de calcinha e blusinha brancas...  “Esse remédio pra dormir...” – pensou.
E foi escovar os dentes. TV ligada.

Intrigado, escovou os dentes com o pensamento na vizinha. Talvez tivesse escovado só o lado esquerdo da arcada dentária... Talvez nem tivesse colocado pasta de dentes na escova. Voltou logo à saleta de TV.
Agora, mais próximo da sacada, podia ver a vizinha com seu cabelo esvoaçante, calcinha e blusa branca, arrumando seu armário...
Era um desafio prestar atenção em qualquer que fosse o movimento ao seu redor, a não ser a vizinha. Podiam entrar em sua casa, levar tudo, até seu samba-canção listrado que vestia para dormir. Ficaria nu, mas não tiraria os olhos da vizinha.
Abaixava-se e levantava-se com uma graciosidade, uma cumplicidade que parecia saber estar sendo observada... nem mesmo por um, mas por vários voyeurs curiosos e sedentos pelos próximos movimentos... os vizinhos, os fãs.
Ele apertava os olhos, a boca salivava. O coração mantinha um ritmo frenético e impulsivo e a mente pensava em construir uma ponte que ligasse suas janelas.

A vizinha termina a arrumação. Despe-se da blusa e caminha ao que parecia ser o banheiro... Ele teve uma iluminação, um brilho lhe afetou todo o seu comportamento que até dez minutos atrás era de um solitário telespectador... aquela “companhia” era inimaginável, ainda mais para uma quinta-feira, mais de meia-noite.
Podia ver ali, o balançar leve de suas partes mais reclusas até então, os movimentos graciosos que caminhavam para lá e para cá, ora pegando uma toalha, ora se abaixando como se procurasse algo.
Segundo muitos, neste momento ele pecava. Caminhava lentamente entre a luxúria e a gula... sim, a gula! Gula de comer com os olhos, salivar com a boca... Sede e fome, um sentimento quase que instintivo não o deixava desgrudar os olhos da janela da vizinha.
Não havia como comprovar, mas jura que ela sabia de todo o seu interesse e olhares curiosos, excitados e perdidos. E fazia movimentos ainda mais graciosos, como que numa maré lenta que se aproxima da orla de uma ilha deserta...

O mundo podia ser ele e a vizinha. Ponto.
Despidos de qualquer moral, julgamento ou preconceitos... despidos de roupa. Esse era seu primeiro pensamento. Talvez até o único, pulando a parte da moral.
O momento que ele esperava mas não queria acreditar acontecer, precede de uma volta e a última peça de roupa que lhe servia nas sinuosas curvas é retirada vagarosamente.
Ele corresponde com o coração na garganta, apertando seu pescoço e os pulmões se contraiam rapidamente, como se houvesse corrido uma maratona.
Estava lá, despida de todo o pudor, controle ou inibição, a vizinha exibicionista.
Volta com a escova de dentes, escova com toda a propriedade que ele nem se deu ao trabalho de fazer naquela noite, por estar com a atenção voltada nela...
Num vai e vem de movimentos desconcertantes ele pensa em fotografar. Mas percebe que ninguém poderia compartilhar daquele seu momento. Sentiria ciúmes!
Percebeu que o registro fotográfico e mental era a melhor opção para o seu amor solitário de uma noite quente, na quinta. E o melhor, estava acontecendo ao vivo e a cores... vibrantes cores...

Ele explode num desencontro casual entre os desejos e imaginação que elevou às alturas toda sua fértil solidão, todo o seu desencontro real.
As luzes abaixam.. a vizinha se despede como o balançar das ondas de uma quinta-feira na orla da praia...
Ela entra no banho. Ele entra em colapso.


E foi assim que me contaram.


E fim.

Ponto de vista

A questionada liberação, legalização do aborto em casos de feto anencéfalo é natural e o envolvimento religioso deve ficar de fora disso.
Entenda porque eu penso assim..
Os políticos tem o dever de trabalhar em prol de nosso desenvolvimento e amparo, essa é a ideia.
Quando se fala em aborto, isso envolve milhões de questões e amplas até demais para dizer quem está certo o errado. Mas eu entendo o lado dos políticos, em sua maioria, estarem votando a favor.
Veja, eles olham pelo direito de ir e vir de um cidadão, o qual eu concordo.
Como opinião pessoal, eu realmente só sentiria isso se visse acontecer de perto. Não sou a favor do aborto e nem nunca passei por uma situação dessas, então é realmente distante da minha realidade.
Mas sou a favor do direito pleno de ir e vir de um indivíduo. Se a mulher quiser abortar, tem de estar amparada pelo Estado. Agora, o que a espera, espiritualmente falando, é uma saga que ela, e somente ela, poderá carregar e levar para o resto da vida. Ou não.
Não temos o direito de julgar crenças ou classificar punições que nem sabemos existir realmente.

Agora, confesso que achei MUITO interessante a reunião de evangélicos, espiritas e católicos frente ao STF, reunidos em oração e protesto contra essa nova abertura na lei brasileira...
Independentemente da escolha, crença e motivos, vi ali HOMENS, SERES HUMANOS que tanto se apontam o dedo na cara dizendo estarem certos sobre isso ou aquilo, fragilizados por um único motivo.
É na fraqueza que se busca o apoio.. e nessa hora somos iguais.

Que tal agirmos de igual para igual durante o resto do tempo?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Tamanho certo

Quando me dou conta de que é tudo uma grande engrenagem que move as pessoas, parece que o chão não é mais chão, mas abismo.
Tudo que se fala, faz e entende tem uma maneira tão particular que insistem em generalizar..
Cada pessoa é um universo em particular, um pedaço que foi feito pra caber aqui e todo o conhecimento tem que ser compartilhado.
Não falo do compartilhar da rede social. Falo da transmissão de coisas realmente fundamentais para nossa existência..
Tudo isso, voltando pela estrada por um caminho mais longo, me fez refletir e até me esquecer de que estava dirigindo rumo a algum lugar, rumo à minha casa novamente.
Escutava "Feito pra acabar" de Marcelo Jeneci (músico e poeta incrível) e ele diz na canção:

"A gente é feito pra acabar
a gente é feito pra dizer que "sim" 
a gente é feito pra caber no mar 
e isso nunca vai ter fim"

Pronto, estava aí toda uma conclusão que parece poética até demais.. mas acredito que ele esteja no caminho certo na discrição dessa engrenagem toda a qual eu penso existir.
Meu desejo depois de uma queda é me levantar, todo mundo pensa assim.
Mas além disso, penso que a queda no abismo e o braço que te puxa de volta antes que encoste nas pedras sujas do fundo, são uma grande lição de vida. São um tapa bem dado na sua cara lavada que às vezes se encontra confiante demais, supostamente imortal.
Não critico mais tanto a política, raramente comento aqui sobre atos de corrupção, como antes fazia com frequência..
Muitos que protestam hoje, amanhã estão com poder nas mãos, sujando notas de dinheiro de sangue dos outros e esquecerão suas raízes, princípios e lições de moral.
E estes são os porcos que emperram a engrenagem.. não sejamos conformistas, mas existem coisas que realmente não estão ao nosso alcance e é triste ver o que o poder é capaz de fazer com uma pessoa..

Se você nunca caiu em um abismo, buraco ou valeta, um dia cairá.
Mas não pense que é o fim do trajeto, é apenas o começo de um outro..
Aliás, você não é um só, você é um combinado de muitas personagens que dividem o seu tempo, você trabalha, se relaciona, come, dorme e faz bobagens como qualquer um.. mas pra cada momento exibe uma forma dentro do contexto.
Pra que se limitar se você pode ser tantas coisas?

Tudo é circular, como nosso mundo.
Tudo vai, tudo volta e o que se planta, se colhe.
Seja você ou o próximo da fila.. cuidado no plantar..

E que a nossa "pequeninice" nesse todo tão grande não seja tão pequena assim.

Respeito e força.


domingo, 1 de abril de 2012

Endorfina no asfalto

Essa é a realidade quando se volta a correr decentemente.
Quando bate a endorfina, você corre dando risada.
E a sensação é incrível.
Ensaiei muito pra voltar a correr os 7km que tinha costume.. comecei devagar.
Primeiro dia: saio de casa, dou a volta em três quarteirões. Peço pra sair. Volto andando. Quase fico pedindo carona para os carros.
Segundo dia. Idem.

Um mês e já conquistava os 3km..
Agora mantenho uma rotina de 5km e daqui é pra mais.. só pra quem gosta sabe do que eu to falando.
Ao menos pra mim, é um momento único: você e o asfalto.
Fones de ouvido e um bom par de tênis são os requerimentos de alguém que quer entrar pro time.
É nesse momento que assimilo todos os retalhos que costurei durante o dia, onde, em meio a árvores e o movimento dos carros eu precedo de um raciocínio da vida, do que eu sou e pra onde vou.
Parece egocentrismo, chatice ou "pagação de filósofo" do século XXI.
Mas a solidão dos 5, 6, 10km é a chave para o que eu chamo de auto-conhecimento.
Tem várias formas de obtê-lo, claro.. já puxei ferro, lutei boxe, karatê, fiz natação e tive vícios e manias não muito saudáveis..
Mas o sedentarismo me incomoda. Profundamente.
Sedentarismo e preguiça. Realmente não tenho paciência pra essas coisas.

E não há nada como você, chão e garra.
Pernadas no asfalto.. recomendo. Fortemente.
Caminhe com uma boa companhia ou corra sozinho.

Dica de saúde do Loucura em Versos.

Fui.