quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"Mil Grau"

Banho de sal grosso. Vou me rezar..

Talvez precise responder alguns e-mails na caixa de entrada, mas.. desculpe. Paro por aqui e amanhã é outro dia.

Sortudo. Porra, não reclamo! Nem acho certo.. tenho raiva de quem fica lamentando. Vou e faço, não consigo prestar atenção em quem fala teoria, muito menos viver nela. Como uma tatuagem, você não aprende olhando o tatuador. Tem que pegar na máquina e fazer.

Tem horas que é melhor parar. Desligar celular, pegar um bom livro.. "E assim falou Zaratustra" é o da vez. Comprei faz uma cara e não havia lido ainda por preguiça da linguagem. Mas recomendo.

"Respeito vem na frente do dinheiro". Racionais bombando a caixa há um tempo.. respeito por Mano Brown, tem que ser poeta SIM pra falar da rua. Criolo também ta na mira, segue o caminho.

Por muitas vezes entro em um ritmo frenético.. pode ser de trabalho, de exercícios ou encanado com alguma coisa.. e sair dela requer uma boa destreza que eu só estou pegando a manha agora.

É isso! Fico muito tempo em cima da mesma coisa até dissecar tudo que posso.. acho que são os fios de cabelo branco aparecendo.

Aprendi tanta coisa nesse tempo fazendo tatuagem que tento sintetizar quando fico pensativo. Histórias de pessoas que passaram e passam por mim.. aprendi muito mais do mundão do que muita gente que se diz dele. Aprendi sobre a lei da selva.

Cada vez mais admiro o silêncio. E é com ele que eu vou agora, chega de barulho por hoje.

Obrigado




sábado, 9 de novembro de 2013

Inferno

Tomei dois goles de sono. Acho que era por volta de uma da manhã, talvez uma e meia.

Me aprofundei na escuridão que tinha tomado conta dos meus olhos. Talvez pelo tapa-olhos que uso pra dormir.. Qualquer claridade nessa hora me atrapalha.

Acontecimentos do dia me deixaram fora de órbita, comecei a caminhar por lugares estreitos, amplos. Tudo junto. Tudo escuro. Podia ouvir gritos, ver vultos. Cavei mais da terra onde pisava e fui descendo pela lama, apesar de eu estar seco.

Meu estômago revirava em loopings loucos. Não sabia ao certo onde estava, porque estava e o que eu era realmente naquele momento. Eu era forma, eu era escuro. Era nada.

Coração em batimentos calmos, apesar da mente funcionar ao contrário. Fui percebendo aos poucos que a baixa claridade me mostrava. Eram silhuetas, precisava compartilhar isso com alguém. Mas estava sozinho. Eu era sozinho. Sabe aquele lance de que nascemos e morremos sós? Foi assim. O sentimento era real.

Apesar de não querer, ia adiante, sempre rumo ao desconhecido. As silhuetas iam tornando-se mais claras, mais reais. Pude ver orgias, violentos encontros de corpos que moviam-se ao desespero, ao despreparo. A confusão era generalizada, embora um tanto organizada.

Sem consciência do que estaria fazendo ali e aonde exatamente o "ali" ficava, pude degustar da solidão escura. Não senti medo nem por um minuto. Mas sentia um peso estranho, precisava me livrar daquilo o mais rápido possível.

Me lembrei de pensamentos do meu dia. Confusos com as vozes de lembranças recentes, pensei estar errado, pensei estar exagerando. Mas não pensei estar louco. Não estava!

Aterrorizantes sentimentos de inércia e impotência eram piores do que as visões do lugar onde eu estava. Mas sabia que poderia sair de lá a qualquer momento, no MEU momento. Eu sairia e ficaria tudo bem.

Experimentei o gosto da escuridão. Ao mesmo tempo que me senti só, senti que era um caminho que precisava seguir, sabia me guiar. Sabia me controlar, mas precisava daquela limpeza. Sim, era uma limpeza.

Talvez pra ver que existem coisas piores, assim daria mais valor para os meus poucos problemas.

Me exorcizei. Renovei.

Acordo limpo, apesar da dor no estômago. Estou novo, mais forte que antes.


**Hoje, em especial, agradeço a querida Marly, minha professora de redação na época do colégio, que me dava a maior força e apoio. Faleceu nesta madrugada e dedico meus sentimentos a essa pessoa maravilhosa que foi. Meus sinceros AGRADECIMENTOS. Você foi importante na minha caminhada.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pela fechadura

Pensou ter visto alguém passar. Chegou mais perto da porta, o corredor estava escuro pois não conseguia dormir com nenhuma luz ligada. Foi bem perto da fresta que se apresentava pra fora do quarto e colocou o rosto pra fora. Fitou um tempo o escuro.

Seus olhos se acostumavam com a escuridão da sala enquanto pensava ser coisa da sua cabeça. Mas a confirmação era um desafio. Sempre intriga um vulto dentro da sua própria casa. De fato, seus olhos não se acostumavam muito bem com a falta de iluminação.

Voltou, fechou a porta e caminhou até a cama. Pensativo. Mas uma pequena luz adentrou pela fechadura da porta. E sumiu. Correu até a porta e colocou um dos olhos na fechadura. Podia ver, e claro que não acreditava nisso, uma cena quase que burlesca. Cinta liga, meia calça, apenas. Na pequena poltrona da sala a mulher de pele lisa e macia se divertia sozinha.

Quase abriu a porta. Mas preferiu observar. A mulher estava na sua poltrona, aquela de assistir TV. E tocava-se quase que com perfeição. Coçou os olhos, que ardiam por não piscar diante da cena. Estar louco é bem diferente de ser louco. E foi nesse primeiro pensamento que acreditou estar bem longe da realidade.

Do outro lado da fechadura, não muito longe dali, aquela mulher ousada apoiava-se com uma das pernas no braço da cadeira. Divertia-se como se estivesse em sua própria casa, vez ou outra olhava em direção à porta, com vontade.

Do lado de trás da fechadura, sentia uma enorme vontade de abri-la. Por pouco não o fez. Tinha medo de aquela mulher na poltrona fosse embora, nunca mais voltasse. Enxergou unhas pintadas, que iam e vinham em movimentos orquestrados, excitantes. As mãos e nada mais. Desempenhavam um papel que ninguém mais ou nada mais poderia cumprir.

Vidrado, de boca aberta, concentrava-se e entrava na mesma onda gostosa da mulher enigmática. Ela parecia sentir o que ele sentia, tocar onde ele queria tocar. Foi assim que ficava mais à vontade, sorria de lado, apoiava as duas pernas nos braços da poltrona e olhava diretamente para a fechadura da porta.

Não era para a porta ou para a direção. Era nos olhos dele, do lado de dentro. Onde queria que ela estivesse.

E mesmo estando separados por alguns metros e uma porta fechada, a energia podia ser sentida, o calor e o suor. O movimento dos lábios e da língua aguçavam os sentidos e seus olhos, ela sabia o que fazer, entendia de alguma forma aquele poder. Jogou a cabeça pra trás, de leve. E assim ficou por mais um tempo. Mãos, unhas, cheiro e pele formavam aquela cena toda. Suspirou forte.

Do lado de trás da porta, também ofegante, conseguiu fechar os olhos por um segundo. Quanto os abriu novamente, ela não estava mais lá. A burlesca sabia que não podia alcançá-la. A burlesca sabia o que fazer e o fazia bem. Até de longe, levava jeito.






domingo, 14 de abril de 2013

Ilusão

Vai de teoria. Vai de gosto. Tanta gente descreve a vida de tantas formas que chega a ter graça. E pra eu achar graça não precisa muito, confesso. Mas precisa jeito. Precisa ter um tom, precisa chegar a mensagem.

Numa dessas em que te dou a mão, caminho do seu lado e os nossos olhos miram a mesma paisagem. A felicidade é uma questão de ser. O êxtase, o início, a descoberta. O conhecimento, o auto-conhecimento.

Dizem que serei punido. Outros, que tudo é uma grande bobagem. Uns temem, outros oram, tantos rezam. Acredita-se em uma grande ilusão, tipo Matrix. Acredita-se em carne, sangue, pele.

Te abraço forte e pegamos no sono. Daqueles onde acordamos no meio da noite, quando tudo parece que não está acontecendo. Mas você repousa lá, com seus grandes cílios. Cabeça encostada no meu ombro e percebo que tudo o mais, naquele momento, é que vira ilusão.

Volto a dormir. Mais tranquilo. Sonho com pessoas correndo de um lado para o outro, trabalhando por dinheiro pra comprar suas mixarias que consomem seu dinheiro, então resolvem trabalhar mais pra ganhar mais dinheiro. E esse pedaço de papel comanda os corações e mentes.

Acordo novamente e, por mais assustado que eu estivesse com as minhas visões, você está lá. Serena, respiração lenta. Me mostrando que não há o que temer, quando sei que a vida é mais que isso.

Respiro fundo. Penso em quantas pessoas que fazem o que não gostam e me considero sortudo. Porém, pra isso paguei um preço. O do risco. E ele é alto, ele te cobra. Ele te consome.

E não pense que fazendo o que gosta, não vai cair na rotina, não vai se pegar um dia fazendo as mesmas coisas que você odeia que façam na sua frente. Coisas que jamais veria-se capaz.

Mas estou lá. Não quero mais dormir. Talvez te olhar seja mais seguro. E se eu tiver outras visões tão loucas ou piores do que a primeira?

Fico fitando seu semblante. Talvez por muito tempo. Que, diga-se de passagem, é relativo. E Einstein estava certo o tempo todo. Deixa fluir, pensei. E o sono chegou, só que dessa vez não sonhei atrocidades, vi que o que realmente importa está guardado. E é pra todos que se dispõem a conhecer, a se olhar.

De manhã, você estava lá. Assim pensei que, sendo minha vida uma ilusão, é das mais bonitas.

Ponto pra mim.




domingo, 7 de abril de 2013

Um pouco só de sacanagem (parte 9)

O relógio marcava umas onze e pouco. Desde que a festa havia começado, o open-bar tornou tudo mais colorido, as pessoas dançavam e se conheciam. Estava um pouco cansado. Era uma sexta e, como um reles mortal, trabalhou duro pelo dia, fez até hora extra.

Conhecia uns poucos que acompanhava, às vezes umas vozes instigavam piadas de mal-gosto, outras comentavam sobre a mulher que passava do outro lado. Uns contavam vantagens, histórias impossíveis que, com o copo cheio, tornam-se lendas.

Foi a bar sozinho, a bebida era uísque com energético. A lei seca que se foda.. pensou. Pediu a bebida e, por algum motivo que não sabe dizer, o barman passou a bola para uma mulher ao lado que começou a preparar o copo. Deve ser a dona.

Observou por um tempo que as mãos eram delicadas, mas fixou-se no decote em V. E era grande, o decote. Não sabe há quanto tempo ficou atento no par de dois. Poderia dizer quantos pelinhos loiros havia contado.. Mas uma das mãos delicadas elevou o copo quase ao seu nariz e aquele cheiro típico de energético o trouxe a realidade.

Meio desconcertado, pegou o copo. Ficou segurando ali, parado. Mas agora fixava-se nos olhos de cílios grandes e, assim como o par anterior, eram belos.. Parece que foi algo em sintonia. Talvez ela também tenha tomado umas e outras enquanto trabalhava.. 

Perguntou se ele desejava mais alguma coisa. Não pensou muito.. Você! Pronto. Tinha falado e nem ele mesmo acreditava.. Ela lhe perguntou se sabia com quem estava falando. A cara pálida que deve ter feito depois dessa pergunta a fez rir alto. Então pode ver seus lábios mais descontraídos e percebeu que tudo era uma grande brincadeira..

Ela olhou em volta, chamou um dos barman que cuidava do pessoal. Cochichou algo em seu ouvido. Chegou mais perto e disse pra saírem daquele barulho. Claro.

Andaram pelo pequeno campo arejado com bancos, árvores, flores e um coreto. Ele, meio de pilequinho, não sabia o que falar.. ela o puxou para um canto, encostou na árvore e começaram a se beijar. Os lábios dela tinham um sabor diferente.. se é que pode-se dizer assim. Derrubado o copo no chão, quase vazio, pôde abraçá-la  e sentiu que o decote do vestido que usava não era só na frente.

Se beijavam, às vezes, quase violentamente. Gravata já não sabia onde estava, só notou quando ela começou a abrir com habilidade, os botões da sua camisa. Pôde sentir, pela ponta dos dedos, que estava indo pelo caminho certo.

Fecho, botão, zíper... Renda, vermelho, batom.

Aqueles pelinhos loiros antes contados com os olhos, agora eram entendidos pelas mãos que misturavam ansiedade com vontade. Mistura perigosa que era o combustível para alimentar o medo de serem vistos. A adrenalina era alta, talvez até se transformasse em pressa em alguns momentos.

Ela era objetiva. Sabia o que queria e o fazia com destreza. Não pensou muito em retribuir e puderam deixar suas roupas na grama, estavam já na parte mais escura da festa. Aquele lugar tipo canto. Sentiam-se adolescentes brincando escondidos, ferozes e ansiosos. Queriam descobrir, queriam libertar.

Fitou aqueles grandes olhos de novo, olhando pra ele como quem pede uma aprovação. Claro que tiveram. Ela riu, satisfeita. Gargalhou. Levantou-se e foi correndo colocar o vestido. Ele desacreditou. Precisaria de, ao menos vinte-e-quatro horas pra cair a ficha. Ficou um tempo parado e, quando voltou, apenas sua roupa no chão. Nem sinal dela.

Vestiu-se. Voltou a festa. Passou pelo som da pista de dança e o barulho que ouviam ao longe, agora pulsava bem de perto. Bem alto. Mirou no bar, lá estava. Olhou pra ela, que piscou e sorriu. Pegou o amigo pelo braço, que estava de carona, disse que tinham que ir embora naquele momento, que tinha uma puta história pra contar. Claro que o amigo duvidou. Amigo quer que você se foda com uma história dessas.. pensou. 

Chegou em casa atordoado.. Não teve nem coragem de subestimar o poder daquela mulher, quase não ouviu sua voz. Somente sons, onomatopeias gostosas que se misturavam com um sorriso bonito e sussurros indecifráveis. Sentou na sacada do prédio. Foi pegar o celular no bolso e encontrou um papel. Número de telefone. Só.

E não é que ainda passam o telefone?





quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pecador

Fico pensando, às vezes, em como é conveniente ditar regras para serem usadas pelos outros. Com esse pensamento indo longe, é inevitável associar isso aos tais pecados que cometemos diariamente. Pecados, segundo manda a igreja, que fique claro.

São tantos anos de histórias onde as conveniências se encaixam perfeitamente onde há pessoas que temem o dia de amanhã e as que sabem conduzir a coisa. "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". Essa frase é enraizada na história toda, no contexto político e religioso.

Quantos temem ao seu deus, quantos temem ao pastor. Quantos tem medo de ir para o inferno? Mas.. que inferno é esse e que paraíso buscamos? Por que "lá em cima" ou "lá em baixo"? E as brasas que vão queimar quem, em vida, pecar?

Me recuso a acreditar em algumas coisas que, pra mim, são tão claras.. mas na hora de expor o pensamento para alguns, percebo o quanto essa condução temente e marcada por futuras punições movem grande parte da humanidade. Ainda vivemos uma escravidão espiritual.

Pra você ter uma ideia, assista Laranja Mecânica. Ou, se já assistiu, entende o que eu digo. Substitua o gosto pela violência pelo fanatismo religioso. Pronto, temos uma reação química perigosa, com risco de explosão.

Veja bem, seguir uma religião e desenvolver a espiritualidade são coisas completamente distintas. Mas ditar regras, criar cenários, manipular a história da humanidade como convém... é um absurdo.

Mais absurdo ainda é a igreja tentando emplacar na política. Imagine você, se ela tivesse o poder de mudar leis? Cada um cuide do que lhe cabe. Se nem os políticos dão conta da demanda de um Brasil sofrido (os que lutam por algo, claro), imagine a igreja. Seria o caos? Com certeza.

Deixa, então, eu colocar pra ti o que acredito ser um verdadeiro pecado: quando, e somente quando, o seu prazer deriva do mal de alguém.

Conhecimento é a nossa arma.

Pra dar amor, basta estar vivo. E só.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sombra

Sigo, rumo ao silêncio. Ando apreciando-o bem mais do que antes, mesmo com alguma dificuldade ou outra pra dormir. Compreendo que é passageiro. Me livro das roupas do dia e sinto, por vezes, como se tivesse que juntar alguns cacos quebrados de partes que são minhas, mas não sei quais.

Ligo o chuveiro, quente. Entro numa de relaxar e tentar impor uma outra postura. Rindo da arte de poder ser eu mesmo. Sendo vários outros, quando convém. Na verdade, todos somos vários. Devido às circunstâncias ou ocasiões. É impossível, por exemplo, sermos os mesmos em uma festa entre amigos e no almoço de domingo com a família. A persona é moldada de acordo com o ambiente. Veja bem, há uma grande diferença entre falsidade e ocasião.. mas isso é tema pra outra hora.

Com a água quente caindo por cima do meu corpo, molhando as tatuagens e escorrendo pelos pés, me lembro de um documentário sobre uma tribo no Xingu, a Caibi. Segundo eles, os guerreiros da tribo que não tem tatuagens são guerreiros sem alma. Acho que estou bem de alma, penso. Extraímos forças das raízes mais submersas quando necessário.

O grande dilema, as grandes dúvidas. A fé move montanhas e se encontra dentro da mente e coração de cada um. Podemos nos apegar a guias, patuás, terços ou livros de auto-ajuda. Mas nada se moverá se não estiver dentro da sua mente. É isso! Antes, tenho que tê-las em mente. Acreditar que o caminho é aquele e, se por ventura, quiser desviar, tenho que ter a força. Pra mim, de Ogum. Pra você, algum outro amuleto ao qual se apegue..

Se eu conseguisse reproduzir um vídeo de tudo que se passa na minha mente, você teria que tirar férias pra assistir tudo. As figuras, os desejos, a espera e os medos.. tudo em uma caixa. Já disse minha avó que, se deitar, as ideias bagunçam lá dentro. Pois é. Talvez por isso o sono às vezes me foge. Deve ser pra tentar manter a cabeça no lugar, enquanto ela quer viajar para lugares que ainda não conheceu ou outros que queira voltar.

Termino, me enxugo com a toalha. Os pensamentos ainda soltos mas eu, por vezes, rio sozinho. Quem nunca fez uma careta ao espelho? Quem nunca treinou um diálogo, chegou na hora e não lembrava de mais nada?

Corro para o computador. Esse mesmo, do qual vos falo. Precisava tentar explicar os momentos de sombra. Sabe aquele conselho antigo: "vá pela sombra"? Prefiro que não.. não sei. Por vezes a sombra é tão escura que mal ilumina os passos ao redor. Peço luz, leio. Desligo a luz e espero o sono chegar. E o faz quando bem entende, diga-se de passagem.

Faço um pedido. Desejo luz e discernimento. E o que eu acho mais feio? É gente que vive chorando de barriga cheia.


Luz.





domingo, 24 de março de 2013

Contexto

Depois da movimentação agitada do dia tenso, do passeio, da ladeira. Corpo fechado, braços abertos pra receber os pensamentos soltos com os quais utilizo uma das minhas melhores armas: as letras. Escrevo de improviso, te desafio a pensar diferente. Quero que você pensa diferente. Imagine, proponha, duvide.

Me livro dos dogmas e regras, não me enquadro nelas. Tomo banho de sal grosso, acredito e desacredito. Questiono os teus deuses, defendo os meus. Escuto sons que talvez não existam. Mas estão próximos. Fico pensando se você continua lendo.. e por qual motivo. Fico imaginando se vai seguir até o final.. Não sei da tua cor, da tua vida.

Relaxo, faço o que gosto. Se não gosto, não faço e ponto. E se a vida for só essa? Ninguém, além de mim, garante o meu amanhã. Faço com gosto. Faço com tesão. Sei das minhas limitações e luto diariamente para quebrá-las. Quebro tudo quando for preciso, abraço o mundo quando o tamanho dos braços é o suficiente. Sem viver de aparência, sem fachada.

Fico puto, mas não fecho os olhos para o que não quero ver. Enxergo, pra poder falar. Olho nos olhos, vejo detalhes. Os seus, os meus. Cada um tem tanto pra oferecer mas talvez não saiba aproveitar. Cabe a quem tem coragem, mostrar pra que veio no mundo. Sem missão, fazer o bem por gostar e não porque vai ser punido caso contrário.

Corto a barra da minha roupa, não gosto de muita cor. Fico vestido, por vezes pelado. O que importa é o sentimento livre. O que importa é não padronizar. Não padronizo nada, não prometo o que não vou cumprir. E até, por vezes, posso prometer e depois desistir. Sou igual a você.

Fortaleço esse nosso laço através das letras. Te agradeço, te perdoo, sinto que há muito mais que posso fazer. E só pego no sono em dias em que tenho a clara certeza de ter dado o meu melhor e ter feito tudo o que eu desejei quando acordei, horas antes. Caso contrário, vou ficar me perguntando o porquê de não ter feito.

Se eu não concordar contigo, vou contestar. Quero testar até onde você vai pelo que prega. Quero saber porque concorda comigo, não só o contrário. Quero escutar você gritar, exorcizar  os seus demônios internos. que são piores do que os externos, pode ter certeza.

Me preocupo em exorcizar os meus. Medito, creio, descreio, não me acomodo. Mas também amo. Intensamente. Continuo crendo que o amor é a única saída digna pra humanidade. A única palavra que fala todas as línguas, o único sentimento que é capaz de criar e destruir.

Fico por aqui. Ou talvez por aí. 
Olha pro lado.




domingo, 17 de março de 2013

Dimensão

Pego no sono profundo.. induzido, confesso. Não sei quanto tempo depois, imagens começam a se formar em minha mente (ou fora dela) com uma precisão milimétrica. Me sinto leve de corpo, alma e companhia. Vi muitas pessoas em volta de uma fogueira.. se divertindo e, o mais importante, fazendo o que queriam sem ninguém para castrá-las.

Alguns se abraçavam, deitados na grama. Outros pulavam a fogueira desafiando o fogo a cumprir sua função de queimar. Pessoas vestidas, pessoas nuas, diversas raças. O elemento principal era um som de vozes e risadas que soavam tão bonitas quanto um mantra, talvez tambores e cordas acompanhassem. O som não era tão nítido quanto as imagens. Amigos, aqueles de verdade verdadeira.. Parentes, idem. Estavam presentes.

Como uma passagem que não me assustou, me vi sob o mar. Era noite e eu não encostava na água. Apenas deitado, mas ela não me molhava. Acho que flutuava. Sozinho. Na imensidão daquele mar negro pensei em tantas coisas que elevei a uma importância que não mereciam, tantas dimensões maiores que os simples problemas podiam tomar. Sem que tomassem conta, como aquele mar pronto para me engolir, entendi que aquela visão de céu estrelado que eu tinha naquela noite, era um sinal para continuar seguindo no que eu acredito.

Dando devidas proporções aos acontecimentos, senti o pôr do sol. De mãos dadas com a minha companheira de viagem, acordei em uma montanha daquelas onde a brisa é leve e gelada. Podíamos enxergar o mundo lá de cima. De fato, enxergávamos. Entendemos nossa dimensão no todo e o quanto eramos pequenos, porém, elementos fundamentais um ao outro. Demos risada de nós mesmos. Pela simples vontade de rir.

Andamos sob a enorme pedra. Entendemos o porquê de o sol nos acordar e a lua nos ninar todos os dias..

Quando acordei, percebi que estava um pouco cansado. Talvez tenha viajado mesmo por esses lugares. Mas não me lembrava da resposta final. É exatamente esse o ponto. Não podemos saber, senão talvez viveríamos com menos entusiasmo. E quando coloquei os pés no chão para me levantar, veio a dúvida: será que acordei ou agora que estou dormindo?



sábado, 9 de março de 2013

Tesão


Deitados na rede, no meio das árvores que balançavam à toa num dia quente. Daqueles que não se quer fazer nada, nem ver ninguém.. As vozes ao fundo, bem longe, já nada diziam, eram apenas barulhos abafados.

Percebeu que seus seios estavam um pouco de lado dentro do decote em V, próximos ao ombro dele. Evitou olhar assim, no meio daquele silêncio todo.. Não queria ser deselegante com aquela mulher que olhava para a copa das árvores e parecia pensar longe. Resolveu abraçá-la.

Não demorou para que ela retribuísse e o envolvesse em seus braços. Tocou seus lábios com certo receio de os seus não serem bem-vindos, mas foi pego de surpresa com a resposta dela. Sua boca estava quente o suficiente pra fazê-lo pirar..

Deram sorrisos tímidos até que seus lábios alcançassem seu pescoço, sua orelha, seus ombros.. Ela estava com uma blusinha preta, alças finas.. Abaixou-as para que pudesse descer lentamente para os seios, os mais bonitos que já tinha visto..

A brisa leve tocava a parte descoberta de sua blusa junto com os beijos dele que ficavam mais intensos a cada novo espaço de pele que era preenchido pelo calor de sua boca e mãos. Vozes já não se ouviam. Se houvesse mais alguém, nem saberiam mais. Ela, de olhos fechados para que nada mais atrapalhasse aquele momento, puxou a camisa dele de uma vez e o abraçou mais forte.

Ele sentia o calor debaixo dos seios dela, percorrendo, sentindo, cheirando sua barriga até o desabotoar do shortinho com os dentes. Subiu de novo, pra ter certeza de que nenhuma parte deixasse de ser beijada, ela o abraçou com as pernas e arranhou de leve suas costas..

Tirou seu shortinho e percebeu que não havia mais nada além dele, ela o conduziu com as mãos puxando de leve seus cabelos, para onde deveria ir agora. E foi, como nunca antes.. Ela puxava seu cabelo com mais força conforme ele deslizava por meio do seu tesão inconsequente..

Talvez tivessem ouvido alguém se aproximando, talvez não.. estavam em um outro mundo, separados por uma muralha invisível, ninguém podia alcançá-los.

Com um sussurro, enrijeceu seu corpo e o puxou de volta para perto, para que pudesse beijá-lo novamente,  com uma intensidade ainda maior que antes.. Ele então pode aguçar seus sentidos enquanto a rede balançava continuamente e seus corpos colados sentiam a energia que tudo aquilo transformava..

O vento voltou a soprar mais forte, ela puxou-o com mais força que antes, mordeu de leve sua orelha e relaxou.. Sentia uma eletricidade por todo o seu corpo, uma sensibilidade que nunca tinha sentido antes. Ficaram lá, por um bom tempo, sem trocar uma palavra.. O sol havia ido embora, eles demoraram para perceber..

Era hora do luau, se vestiram, saíram de mãos dadas e sentaram-se perto da fogueira.. Mas nenhum dos dois pensavam em nada mais.. A não ser voltar para a rede.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mato

Lurdez. A Lurdinha. Gostava mesmo é de transar no mato. Tinha uma fixação por verde que até assustava os namorados. Conseguia uma conexão com a natureza, dizia ela, que não rolava com nenhum homem. Conseguia ir e vir até sozinha. Atrás da moita, literalmente.

Uma vez começou a sair com um rapaz, amigo meu. Começaram a morar juntos. Juntaram. Dizem as boas línguas que, certa vez, de tão cansado de trepar no quintal, o cara mandou construir um jardim de inverno dentro do quarto. Entre o quarto e a sala.

O bom, segundo ele, é que os colchões duravam séculos, já que a atividade rolava mesmo nesse tal jardim.

Só não havia percebido ainda, a Lurdinha, que no meio do matagal existiam algumas plantas artificiais. Numa vez, no meio da trepada de Tarzan com Jane, ela, na hora de revirar os olhinhos, reparou um caule meio estranho. Daqueles bem artificiais.

Parou no meio. Meu amigo, sem entender nada, ficou olhando, questionando. Ela, por sua vez, fazia vista grossa. Se trancou no banheiro (que por acaso, tinha um vaso de plantas do lado da pia) e começou a chorar, dizia que ele tinha acabado com a viagem dela. Viagem de naturalista. E ela jura de pé junto que nem tinha fumado um.

A coisa apertou, fez greve. Meu amigo estava quase mandando plantar um pinheiro no meio da sala, pra ver se a maria-sem-vergonha se atiçava novamente.

Levava flores, ela ignorava. Podava o jardim, ela nem elogiava.

A história acabou tendo um final meio trágico (pra não dizer cômico). Ele ficou com a casa. Ela, com o cacto mexicano.

Pode?