sábado, 9 de novembro de 2013

Inferno

Tomei dois goles de sono. Acho que era por volta de uma da manhã, talvez uma e meia.

Me aprofundei na escuridão que tinha tomado conta dos meus olhos. Talvez pelo tapa-olhos que uso pra dormir.. Qualquer claridade nessa hora me atrapalha.

Acontecimentos do dia me deixaram fora de órbita, comecei a caminhar por lugares estreitos, amplos. Tudo junto. Tudo escuro. Podia ouvir gritos, ver vultos. Cavei mais da terra onde pisava e fui descendo pela lama, apesar de eu estar seco.

Meu estômago revirava em loopings loucos. Não sabia ao certo onde estava, porque estava e o que eu era realmente naquele momento. Eu era forma, eu era escuro. Era nada.

Coração em batimentos calmos, apesar da mente funcionar ao contrário. Fui percebendo aos poucos que a baixa claridade me mostrava. Eram silhuetas, precisava compartilhar isso com alguém. Mas estava sozinho. Eu era sozinho. Sabe aquele lance de que nascemos e morremos sós? Foi assim. O sentimento era real.

Apesar de não querer, ia adiante, sempre rumo ao desconhecido. As silhuetas iam tornando-se mais claras, mais reais. Pude ver orgias, violentos encontros de corpos que moviam-se ao desespero, ao despreparo. A confusão era generalizada, embora um tanto organizada.

Sem consciência do que estaria fazendo ali e aonde exatamente o "ali" ficava, pude degustar da solidão escura. Não senti medo nem por um minuto. Mas sentia um peso estranho, precisava me livrar daquilo o mais rápido possível.

Me lembrei de pensamentos do meu dia. Confusos com as vozes de lembranças recentes, pensei estar errado, pensei estar exagerando. Mas não pensei estar louco. Não estava!

Aterrorizantes sentimentos de inércia e impotência eram piores do que as visões do lugar onde eu estava. Mas sabia que poderia sair de lá a qualquer momento, no MEU momento. Eu sairia e ficaria tudo bem.

Experimentei o gosto da escuridão. Ao mesmo tempo que me senti só, senti que era um caminho que precisava seguir, sabia me guiar. Sabia me controlar, mas precisava daquela limpeza. Sim, era uma limpeza.

Talvez pra ver que existem coisas piores, assim daria mais valor para os meus poucos problemas.

Me exorcizei. Renovei.

Acordo limpo, apesar da dor no estômago. Estou novo, mais forte que antes.


**Hoje, em especial, agradeço a querida Marly, minha professora de redação na época do colégio, que me dava a maior força e apoio. Faleceu nesta madrugada e dedico meus sentimentos a essa pessoa maravilhosa que foi. Meus sinceros AGRADECIMENTOS. Você foi importante na minha caminhada.