domingo, 7 de abril de 2013

Um pouco só de sacanagem (parte 9)

O relógio marcava umas onze e pouco. Desde que a festa havia começado, o open-bar tornou tudo mais colorido, as pessoas dançavam e se conheciam. Estava um pouco cansado. Era uma sexta e, como um reles mortal, trabalhou duro pelo dia, fez até hora extra.

Conhecia uns poucos que acompanhava, às vezes umas vozes instigavam piadas de mal-gosto, outras comentavam sobre a mulher que passava do outro lado. Uns contavam vantagens, histórias impossíveis que, com o copo cheio, tornam-se lendas.

Foi a bar sozinho, a bebida era uísque com energético. A lei seca que se foda.. pensou. Pediu a bebida e, por algum motivo que não sabe dizer, o barman passou a bola para uma mulher ao lado que começou a preparar o copo. Deve ser a dona.

Observou por um tempo que as mãos eram delicadas, mas fixou-se no decote em V. E era grande, o decote. Não sabe há quanto tempo ficou atento no par de dois. Poderia dizer quantos pelinhos loiros havia contado.. Mas uma das mãos delicadas elevou o copo quase ao seu nariz e aquele cheiro típico de energético o trouxe a realidade.

Meio desconcertado, pegou o copo. Ficou segurando ali, parado. Mas agora fixava-se nos olhos de cílios grandes e, assim como o par anterior, eram belos.. Parece que foi algo em sintonia. Talvez ela também tenha tomado umas e outras enquanto trabalhava.. 

Perguntou se ele desejava mais alguma coisa. Não pensou muito.. Você! Pronto. Tinha falado e nem ele mesmo acreditava.. Ela lhe perguntou se sabia com quem estava falando. A cara pálida que deve ter feito depois dessa pergunta a fez rir alto. Então pode ver seus lábios mais descontraídos e percebeu que tudo era uma grande brincadeira..

Ela olhou em volta, chamou um dos barman que cuidava do pessoal. Cochichou algo em seu ouvido. Chegou mais perto e disse pra saírem daquele barulho. Claro.

Andaram pelo pequeno campo arejado com bancos, árvores, flores e um coreto. Ele, meio de pilequinho, não sabia o que falar.. ela o puxou para um canto, encostou na árvore e começaram a se beijar. Os lábios dela tinham um sabor diferente.. se é que pode-se dizer assim. Derrubado o copo no chão, quase vazio, pôde abraçá-la  e sentiu que o decote do vestido que usava não era só na frente.

Se beijavam, às vezes, quase violentamente. Gravata já não sabia onde estava, só notou quando ela começou a abrir com habilidade, os botões da sua camisa. Pôde sentir, pela ponta dos dedos, que estava indo pelo caminho certo.

Fecho, botão, zíper... Renda, vermelho, batom.

Aqueles pelinhos loiros antes contados com os olhos, agora eram entendidos pelas mãos que misturavam ansiedade com vontade. Mistura perigosa que era o combustível para alimentar o medo de serem vistos. A adrenalina era alta, talvez até se transformasse em pressa em alguns momentos.

Ela era objetiva. Sabia o que queria e o fazia com destreza. Não pensou muito em retribuir e puderam deixar suas roupas na grama, estavam já na parte mais escura da festa. Aquele lugar tipo canto. Sentiam-se adolescentes brincando escondidos, ferozes e ansiosos. Queriam descobrir, queriam libertar.

Fitou aqueles grandes olhos de novo, olhando pra ele como quem pede uma aprovação. Claro que tiveram. Ela riu, satisfeita. Gargalhou. Levantou-se e foi correndo colocar o vestido. Ele desacreditou. Precisaria de, ao menos vinte-e-quatro horas pra cair a ficha. Ficou um tempo parado e, quando voltou, apenas sua roupa no chão. Nem sinal dela.

Vestiu-se. Voltou a festa. Passou pelo som da pista de dança e o barulho que ouviam ao longe, agora pulsava bem de perto. Bem alto. Mirou no bar, lá estava. Olhou pra ela, que piscou e sorriu. Pegou o amigo pelo braço, que estava de carona, disse que tinham que ir embora naquele momento, que tinha uma puta história pra contar. Claro que o amigo duvidou. Amigo quer que você se foda com uma história dessas.. pensou. 

Chegou em casa atordoado.. Não teve nem coragem de subestimar o poder daquela mulher, quase não ouviu sua voz. Somente sons, onomatopeias gostosas que se misturavam com um sorriso bonito e sussurros indecifráveis. Sentou na sacada do prédio. Foi pegar o celular no bolso e encontrou um papel. Número de telefone. Só.

E não é que ainda passam o telefone?