segunda-feira, 28 de maio de 2012

Visão de dentro

Sai do banho, os pingos d'água que escorrem pelo seu corpo faz com que muitos desejariam sê-los naquele momento.
Secador, creme, maquiagem, batom.
Perfume, suave, lingerie, paciência e pensamento longe..
O limite entre o absurdo e a vaidade se perde no seu pensar, suas unhas pintadas da cor que mais gosta agrada a maioria..
Luxo, riqueza, sonho, desejo, anseio de viver melhor.

Um beijo em sua filha que dorme como um anjo, inocente e bonita como as crianças devem ser.
Alguns passos, observa-se mais uma vez no espelho, vestido justo, decote que realça o movimento natural dos seios, corpo considerado escultural pela maioria.
Tudo certo na checagem.
Bolsa, lenço, documento, paciência.

O celular toca silenciosamente, ela sabe que é a sua hora de vender o que nunca quis para ganhar o que sempre sonhou.

Olha para a filha que dorme solta como uma estrela silenciosa no sofá da sala com a TV em um canal desses de desenhos infantis.
Sempre quando pensava em desistir, a resposta era ela.
Sai silenciosamente, encosta a porta.
Chave, pulseira, dor, cadeado.

Elevador, espera, ansiedade, impaciência.
Na portaria, observa o carro que aguarda o seu prazer em troca de notas azuis.
Eram sempre bem-vindas, mas o melhor momento era o fim daquilo.
De volta para a sua cama, casa, filha, TV.

Fecha o portão e entra no carro.
As mãos que deslizam por sua coxa não são aquelas que tempos atrás a faziam sentir mais mulher.
A dor de deixar para trás a janela do apartamento com as luzes da televisão era compensada pela necessidade de fazer aquilo tudo acontecer.
O pré-julgamento, a dor de viver.

Nem tudo é o que parece e nem tudo o que parece gosta de ser assim.
Momentos de visões deturpadas, luzes baixas, prazeres alheios.
Essa era a missão, quem sabe, com um pouco de sorte, conseguiria prazeres também.
Mas quase nunca era o que desejava encontrar pela frente.

Discrição, peso, maquiagem borrada.
As pernas que antes estavam embebidas de creme hidratante agora eram cansadas e secas.
A hora de voltar, receber, ser novamente por algum intervalo.
Desta vez não tivera a sorte do prazer, quem sabe no próximo passo da mesma noite.

Cada um com o seu peso de viver.