quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um pouco só de sacanagem (parte 3)

Foi de um espanto enorme quando viu-se tremer de nervosismo a chegar perto daquela..
Não era de se esperar, mas aconteceu, debaixo das luzes da noite, na rua, no beco, suja e bonita como deveria ser.
Entre o que é real e o que pode acontecer, tinha sonhado com aquilo na noite anterior..

- Vamos dar uma volta?
- Tudo bem, confio no teu sorriso..
- Certeza?
- Você não me engana.

De mãos separadas, transpirando sozinhas de suor, emoção, história, medo, orgulho...
Passariam despercebidos facilmente.. Algo acontecendo no ponto de ônibus, um velho pinguço fumando seu cigarro barato e encostado na sarjeta faziam parte de uma cena tipicamente urbana que lotava as imaginações mais férteis..
Deram mais uns passos.. acharam um lugar mais reservado.
Não deram-se ao trabalho de esperar para entrar e começar o que chamavam de carinho.
Ali, na entrada, mãos dadas e um frio corria pela espinha, carne, osso, pele.. macia..
O frio era adrenalina, fazia um calor infernal em uma noite como aquela.
As paredes do beco eram lisas, ásperas, molhadas, secas.. cada momento tinha sua particularidade.
Cada momento tinha seu som.
Uma mureta, um apoio, os lábios encaravam-se afoitos, com vida.. vida própria. Moviam-se involuntariamente, inconstantemente, sem lógica ou reação adversa questionável pela língua..
Nada constava na contra-indicação e a blusa aberta fazia reluzir ali, entre os dois, as luzes amarelas que vinham da rua solitária, que assistia quieta a tudo aquilo, aos sons e aos movimentos curvilíneos..
A rua podia ver o reflexo da abertura, a pele suada encarando o mar de imaginações mais férteis daquele dia, daquela noite.. já não sabiam..
Assistia calada, talvez rindo por dentro, talvez desejando ser humana para participar de uma afetividade..
Talvez não a aceitassem por lá caso fosse gente.
Era algo de dois. Não é toda hora que isso pode acontecer tão inesperadamente..
Um barulho, barulho de carro!
Reflexos de uma sirene vermelha que acolhia a todas as paisagens sujas daquela rua numa noite de verão.
Medo. Com medo, mais adrenalina circulava nas veias dilatadas pela paixão que envolvia todo o receio, mãos apertavam com força toda aquela tensão, a angústia.. que passou bem perto de ser revelada...
E então o grande final apareceu tão pertinente quanto a insistência daquela sirene para o resto da rua...
A rua, por sua vez, que chorava de emoção, chegava ao êxtase sem nem mesmo poder se tocar, nem entender o que acontecia de fato ali no meio do percurso todo.. sem poder ser..

Os botões e tecidos em seus lugares, o que era demais ficara na história daquele beco na rua que via.
Via e desejava-se toda.
De mãos dadas, saem do beco.. o velho pinguço ainda está lá e, consciente ou não, não sabem.. mas um sorrisinho pertinente saiu-lhe do canto da boca, foi inevitável a face avermelhar..