terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Guardeiê

Guardei dentro de uma caixa, todo meu sentimento.
Toda a prescrição médica com a dieta prescrita juntamente com a receita do complexo que controla o colesterol e a insulina, mesmo sem ter estes problemas. Guardei uma cartela de Doril, caso precisasse.
Guardei o controle. Não o da insulina, nem o do vídeo-game que eu não jogo, guardei o pior: o autocontrole.
Antes de guardá-lo, retirei carinhosamente sua bateria.
Guardei um cachorro, um agasalho, uma peruca. Ninguém sabe o que pode acontecer...
Comprei três barras de cereal e uma garrafa d'água. Guardei também.
Alguns trocos, moeda, elástico e canivete.
Espuma de barbear, lâminas e um espelho vermelho. A moldura, não o vidro.
Papel higiênico, dentes de alho e sal grosso.
Uma lanterna, dois ovos e um bacon.
Fotografias, discos, arritmias, calmantes, cachaça, camomila e jasmim.
Lasanha  pronta, canela, café...
Três cotonetes, um vaso e um canguru.

Guardei tudo isso e fui viajar...
Viajei no mar das palavras que eu queria guardar
Guardei cada pedaço no passo do asfalto que dava sem olhar pra trás
Porque se fosse pra agradar a todos eu teria programa na televisão..
E ainda assim seria um risco sem fim, pior do que sair no Faustão ou ser notícia de primeira-mão
Não tenha dó de mim, que insisto em escrever o que poderia falar..
Mas falar não marca, não se guarda e não se lembra!
Eu escrevo pra poder guardar, nem que seja por agora ou pra depois
Nem que seja pra mim ou pra você
Tudo o que se passa nessa minha cabeça freneticamente entediada por excesso de pensamento
Por pensamento no excesso.. Nem eu sei mais!
Posso fazer uma poesia, uma crônica, ou misturar os dois, tanto faz.
Fato é que também posso confundir, inventar ou (diriam!) mentir!
Calúnia, amor, sexo, compaixão..
Em tudo que faço existe participação do coração
Porque ser racional, e somente isso..
Não me faz bem, admito.