quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Por que eu tatuo as pessoas... (e a mim mesmo)

Muita gente me pergunta porque me tatuo. Assim como algumas perguntam porque tatuo as pessoas...
O negócio é bem simples, embora não pareça: Ou você gosta de tattoos ou as odeia! Não tem alguém que goste "mais ou menos", isso é fato.

Agora vamos lá.. desde pequeno eu achava demais os "tiozões" tatuados que eu via por aí, assim como os caras de bandas famosas de rock'n'roll. Além, claro, de admirar corpos tatuados, aquilo fazendo parte do seu corpo, concorrendo com o espaço da sua pele em contraste com os desenhos.. Sem contar que quem tinha tatuagem era "perigoso" e eu achava muito interessante ser malvado. Sempre queria ser o vilão nas brincadeiras de criança..

Ok, no fim você descobre que não fica malvado por ter uma tattoo. Mas ela continua sendo legal.
O porquê de me tatuar eu realmente não sei, comecei assim que fiz 18 anos, com uma pequena, tímida. Três meses depois lá estava eu de novo no estúdio (que eu viria a trabalhar) pra fazer um novo adereço.. Daí então, não parei mais. Até porque entrei para o ramo pouco tempo depois (devem ter me acolhido pelo meu interesse mesmo..).

Eu gosto da tattoo por vários motivos. Entre eles: você não poder tirá-la do seu corpo (um fator risco), você sentir dor pra fazê-la (um fator "recompensa") e seduzir (fator satisfação). Não é seduzir para o acasalamento, mas é o seduzir-se com as próprias formas de seu corpo, moldar-se à elas como uma roupa se molda bem em você.

Deixo de lado essa paranóia de que "marco pessoas para sempre" ou de que a tattoo TEM que ter significado. Não, NÃO TEM que ter significado. Mas tem que ser algo que transcende o que você entenda. Você não escolhe o desenho que irá tatuar, você "sente" o que deve ser feito.

Gosto muito dos pensamentos do tatuador Jun Matsui, assim como seu trabalho. Ele diz que as pessoas se tatuam em dois momentos da vida: na DEPRESSÃO ou na CONCRETIZAÇÃO. Sempre.
Depois que ouvi ele dizendo isso, comecei a reparar a veracidade. Você se tatua como uma afirmação do seu EU, do seu ego, do que você representa (não estamos falando aqui de borboletas ou estrelinhas, ok??). Ainda segundo Jun, conforme as pessoas vão ficando mais ansiosas e estressadas, mais querem se auto-representar com o próprio corpo. É como você comprar algo bonito pra enfeitar a sua casa.

Por isso que eu não trabalho com os desenhos da "moda". A tattoo é algo tão pessoal, que não pode ser copiado de alguém ou de algo que esteja pronto e só. Ela envolve três coisas: expectativa, dor e resultado final (este último SEMPRE tem que ser bom, não há desculpas).

Mas o mais interessante disso tudo, é que se você gosta de tattoo, nunca vai conseguir explicar pra quem não gosta, qual é a sensação, qual é a felicidade que te dá em ter um adereço, um desenho novo no seu corpo que não vai sair mais, é eterno. Como poucas coisas na vida.

Você carrega sua própria tattoo e ela diz muito sobre você.


P.S.; Quero deixar aqui os créditos para o Robsão (Gafa Mestre), que me apoiou, me ensinou, teve paciência e me mandou desenhar MUITO (1.000 folhas que ainda estão guardadas no antigo estúdio) até sentir que eu estava pronto pra "voar" para a pele das pessoas...