segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dor, prazer e martelo

Há alguns meses ando convivendo com uma dor meio chata.
E implicante.

Paro e penso que sem ela seria melhor.
Mas eu só valorizaria isso a partir do momento que ela viesse. E veio.
O excesso da profissão, o excesso do exercício físico... não importa de onde venha, exatamente.

Mas ela me rendeu algumas histórias...

E aqui vai uma delas:

Conheci um chinês (ou coreano), daqueles que não falam quase nada de português, não tem cartão ou telefone, mas são diplomados em diversos modos de cura e são quase um "mito" escondido e transmitido pelo boca-a-boca (como os tatuadores do japão).

Consegui um contato dele através de uma pessoa querida que me disse ter gostado e que ele usava alguns martelos para nos colocar no lugar.
Achei interessante e pensei: "ok, martelos pequeninos, algumas marteladinhas e eu tô pronto pra outra..".
Demorei para achar o local, como não podia ser diferente, e toquei a campainha.

Confesso que estava com uma mistura de ansiedade com medo...
Mas mais ansiedade.

Entro e uma mulher (também coreana ou chinesa) me atende, não fala um "a" de português mas consegui entender que devia esperar.

Espera.

Espera.

Pronto, aparece o meu futuro "consertador" de ossos.
Simpatia total.
Mandou que ficasse de cueca para avaliar minha postura.
Consegui entender mais ou menos o que ele dizia, mas a conclusão final era: "cara, você está todo torto, vai demorar pra consertar isso...".

Enfim, eis que ele me manda deitar na maca... e eu avisto os martelos....
Juro que eram martelos gigantes, um tanto menores que os do Chapolin, claro, mas eram maiores do que eu esperava...

Começa a sessão.
Estrala aqui, estrala lá, estrala até a minha orelha.
Até aí, ok, eu até estava achando divertido, tirando a parte de que tinha acabado de fazer uma tatuagem no peito no dia anterior e estava ralando na maca inteira.

Sinto um breve intervalo.
Barulho de martelos com cabo de madeira, emborrachados, claro.

BANG!
BANG BANG BANG BANG caceta BANG BANG urgh BANG aiaiaiai, seu moço.....

E assim foram-se vários e vários BANGS, BONGS e afins...

Pelo que entendi, minha bacia estava um tanto "torta" e as marteladas, claro, sempre no lado torto. 
Neste caso, o direito.
Vinha frio, calor, vontade de rir.
Sim, rir de nervoso.

Eu só não gritei porque tinha gente esperando do outro lado do biombo que separava a sala da "tortura" e da espera.

Quando acho que tudo acabou, os BANGS, as BONGAS e tudo o mais...
Escuto ao pé do ouvido "Lelaxa, lelaxa...."
E como que num súbito ataque de fúria, vem a estralação master boing boing da coluna inteira em um só movimento.

Deu pra ouvir todas, uma por uma das vértebras estralando.
Juro.

A sensação, nesse momento, já era de estar fora do corpo.
A parada era quase um ritual espiritual.

Ele me manda levantar, eu capengo levemente...
Manda ficar de costas pra ele.
Dá uma olhada geral...
Eu no aguardo.

BANG!

Caceta, seu moço! (fui parar uns 2 metros pra frente)

BANG!

"Non pode i pala flente, fica pala tlas" (traduzindo: não anda quando eu martelar a sua bacia, porra!)

BANG!

"Non non non non non! Pla tlas!"

BANG!

Não sei se eu consegui aguentar ou se o cara desistiu de mim.
Mas depois da terceira ele me liberou....
Fui embora com uns 30kgs a menos, alguns roxos...

Você pode estar pensando que foi algo horrível, mas eu volto lá até hoje...
Talvez porque eu não entenda o que ele fala...
É quase que uma mistura igual a da tatuagem, a dor de fazer e o prazer do resultado final...

Resumindo, o cara é um artista!
E eu paguei um pau...

E a dor?
Ah, isso passa!